Festa de Santo Antônio mobiliza Bento Gonçalves em celebração à fé e à natureza
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- 16 de jun.
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Por Diego Franzen | Pauta Serrana
Não era apenas uma sexta-feira, nem apenas 13 de junho. Era dia de alvorada, de pão abençoado e de lágrimas quentes na manhã fria de Bento Gonçalves. O sino não tocava sozinho — tocava com o coração de um povo inteiro, 8 mil corações que pulsaram em uníssono no Santuário Diocesano. Ali, onde a fé tem sotaque italiano e perfume de camomila colhida no quintal da nona, a 147ª Festa de Santo Antônio se fez história viva, carne, pão e esperança.

Acordou-se cedo naquele dia. O sol, tímido, parecia respeitar o frio de um inverno precoce. Mas nem o vento teve força para barrar a procissão de almas. Cinco missas. Cinquenta e dois mil pãezinhos. Quatro mil e quinhentas comunhões. Números que, em tempos de algoritmo, ganham sentido verdadeiro apenas quando a gente escuta o eco da oração no meio da multidão.
Dom José Gislon, bispo da Diocese de Caxias do Sul, tomou a palavra na Missa das 15h, a mais esperada — a mais cheia, também. Olhos marejados, ele recordou não apenas o padroeiro, mas os flagelos de maio de 2024. “Estamos todos no mesmo barco”, repetiu, lembrando o Papa Francisco. O povo não apenas escutou: sentiu. Bento Gonçalves, marcada pela força das águas, hoje celebrava a força da fé.
Santo Antônio, Francisco e os imigrantes: encontros possíveis
No vídeo oficial da Festa, a história se desdobra em imagens que parecem saídas de um sonho bom: imigrantes italianos com o santo no peito, São Francisco de mãos dadas com Antônio, e crianças — muitas crianças — construindo com papelão, tinta e fé um mundo que ainda tem salvação.
Alzira Fávero Glanert, emocionada, resumiu na Missa das 18h: “No céu, certamente, eles se abraçam intercedendo por aqueles que ontem e hoje cuidam da criação”. Foi poesia pura — não escrita, mas vivida.
Uma festa que plantou flores — e também futuro
A 147ª Festa não foi só devoção: foi gesto concreto. Copos biodegradáveis, cinema nas escolas, teatro jovem, e catequese com maquetes recicladas sobre os milagres de Antônio. É como se o santo de Pádua tivesse trocado os púlpitos de pedra pelos bancos escolares da serra gaúcha. E mais: a procissão luminosa do dia 10 de março dobrou de tamanho. Quatro mil pessoas, velas acesas e olhos voltados ao céu — ou talvez ao coração.
Teve pão, teve jipe 4x4, teve bênção de mudas de flores — teve um povo inteiro dizendo “sim” à esperança.
147 vezes Antônio. Uma só certeza: ainda é possível acreditar
O pároco, padre Volmir Comparin, não se conteve: “Muito obrigado. Que tudo isso seja entregue nas mãos de Deus”. E foi. Foi quando, ao fim da Missa, os nomes dos novos festeiros foram anunciados — e o lema da 148ª Festa surgiu como uma promessa: “Na Casa de Santo Antônio somos todos irmãos”.
Se 2025 foi o ano de contemplar a criação, 2026 será o de habitá-la com dignidade. E a Paróquia, com seu alcance digital de mais de 800 mil pessoas somadas, já entendeu que evangelizar é, também, comunicar com beleza.
A fé que sorteia um carro, mas entrega sentido
Como toda festa boa, houve quermesse, houve teatro, houve prêmio. Ação entre amigos, diz o nome — mas no fundo, é muito mais: é ação entre irmãos. Entre aqueles que um dia, como os imigrantes retratados no vídeo, chegaram sem saber o que encontrar. E encontraram um altar, um pão, um povo.
Contemplar a criação, dizem os teólogos, é mais do que olhar para a natureza. É olhar o outro como parte dela. É saber que a fé, quando compartilhada, alimenta mais do que o corpo. Alimenta a alma. Como os 52 mil pãezinhos que, naquela manhã gelada, aqueceram mãos e corações.
E talvez, lá do céu, Santo Antônio tenha olhado tudo isso e sorrido. Afinal, não era apenas uma festa. Era Bento Gonçalves lembrando ao mundo que o Evangelho pode ser vivido com pão, com música, com barro, com maquete — e, sobretudo, com amor.













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