Golpistas fingem ser advogados no WhatsApp e fazem vítimas com mensagens urgentes e falsas promessas
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Por Diego Franzen / Pauta Serrana

Tem ocorrido muito em Bento Gonçalves e em toda a Serra Gaúcha nos últimos meses. E vai se avolumando. Eles chegam como salvadores. Foto de terno, discurso técnico, postura de quem domina códigos e tribunais. Mandam mensagem como quem traz solução, mas carregam a armadilha. O golpe do falso advogado tem se espalhado silenciosamente e, quando a vítima percebe, a pressa virou Pix e o medo virou prejuízo.
A estratégia é simples e covarde. O criminoso se apresenta como advogado, muitas vezes usando nome e imagem de um profissional real. Diz que está cuidando de um caso urgente envolvendo a pessoa ou alguém da família. Fala em risco de prisão, prazo final, audiência prestes a acontecer. Não liga. Não aceita reunião. Só digita. E exige depósito imediato para custas processuais, fiança, taxas. Sempre com aquele verniz de autoridade que faz a vítima obedecer antes de pensar.
Quem cai? Quase sempre quem está vulnerável. Pais aflitos com o filho envolvido num acidente. Pessoas que passaram por algum processo judicial. Idosos que confiam no formalismo das palavras difíceis. Empresários com receio de perder prazos. Golpe bem construído não convence pela lógica. Convence pelo medo.
Eis o detalhe que separa a verdade da fraude. Advogado de verdade não pede dinheiro pelo WhatsApp sem documentação. Não ameaça com frases feitas. Não ordena Pix às pressas como quem negocia liberdade. Advogado orienta. Explica. Formaliza por contrato, por e-mail, por protocolo oficial. Se for preciso pagar custas, existe guia judicial, existe comprovante emitido pelo sistema da Justiça.
O golpe não tem nada disso. Só urgência e gramática torta tentando parecer inteligência.
Ao receber uma mensagem assim, o primeiro ato é respirar. O segundo é verificar. Ligue diretamente para a pessoa supostamente envolvida. Solicite o número da OAB e confirme no site oficial. Telefone para o escritório, nunca para o número enviado pelo próprio golpista. Não transfira nada antes de falar com alguém de fato responsável. Documente tudo. Registro ajuda a impedir que outros caiam no mesmo estratagema.
Quem tem razão não precisa correr. Quem aplica golpe, sim.
Como o golpe é aplicado
O golpe segue quase sempre o mesmo roteiro. O criminoso envia mensagem pelo WhatsApp se apresentando como advogado, frequentemente anexando foto em traje formal ou até imagens de supostos documentos de escritório. Diz que está diante de um caso urgente envolvendo a pessoa ou alguém da família, algo como um acidente de trânsito, um processo criminal, audiências ou despesas judiciais. A narrativa vem embalada em termos técnicos e frases calculadas para gerar pânico, como “se não pagar agora pode ser preso” ou “o prazo encerra em uma hora”. Ao perceber qualquer sinal de hesitação, promete “tentar segurar o juiz”, numa tentativa barata de parecer influente. Logo em seguida, solicita pagamento via Pix, normalmente em valores baixos para convencer a vítima a agir rápido, com o argumento de que seriam apenas custas iniciais. Mas assim que o primeiro depósito é feito, surgem novas solicitações.
Os alvos mais comuns são idosos, familiares de pessoas envolvidas em acidentes, empresários e autônomos que respondem a processos, indivíduos que tiveram seus nomes mencionados em ocorrências e até pais de alunos que passaram por situações disciplinares. A armadilha funciona porque explora o medo, a urgência e o desconhecimento.
Alguns sinais ajudam a identificar que algo está errado. O suposto advogado insiste em resolver tudo por mensagem e evita ligações. Pressiona por transferência imediata, especialmente via Pix, usando linguagem que tenta soar sofisticada, mas com erros que entregam a farsa. Em muitos casos, sequer fornece número da OAB ou apresenta um pertencente a outro profissional. Quando questionado sobre recibo ou documentação formal, diz que não é possível naquele momento, reforçando a urgência como justificativa.
Ao receber mensagem dessa natureza, a primeira atitude deve ser buscar confirmação. Pedir número da OAB e telefone fixo do escritório, verificar os dados diretamente no site da Ordem, nunca realizar transferências antes de conversar por telefone oficial ou pessoalmente com o profissional e, se o nome de alguém da família for citado, ligar diretamente para essa pessoa. Manter registros das conversas pode ser fundamental para eventuais denúncias.
Importante lembrar que um advogado legítimo jamais solicita pagamentos emergenciais por WhatsApp sem documentação, nunca recorre à pressão emocional como forma de cobrança, não negocia valores ou acordos judiciais fora dos procedimentos oficiais e não usa expressões como “fiança liberatória de urgência” sem que exista processo protocolado.
Em caso de suspeita ou confirmação de golpe, a orientação é registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil, comunicar a OAB para que o nome usado indevidamente não continue circulando e acionar o Ministério Público se houver extorsão ou dano financeiro.














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