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Amores ausentes: O Dia dos Namorados e os lutos invisíveis

  • Foto do escritor: temporacomunicacao
    temporacomunicacao
  • 12 de jun.
  • 3 min de leitura

Coluna da Psicóloga Franciele Sassi


O Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho, é, para muitos, uma data marcada por celebrações a dois com doses extras de afeto, trocas de presentes, demonstrações públicas e privadas de carinho e admiração. Comumente, também é possível acompanhar casais que aproveitam o clima romântico para oficializarem novas passagens como, por exemplo, pedidos de casamento. Enquanto alguns comemoram, felizes, outros podem passar pela data de uma maneira silenciosamente dolorosa, carregada de lembranças, ausências e sentimentos difíceis de nomear. É nesse espaço menos falado que habitam os lutos invisíveis, aqueles que não recebem rituais, apoio social e validação emocional.

Falar de luto não se trata exclusivamente de falar sobre perdas por morte concreta, mas também sobre mortes simbólicas. Trata-se de falar do que foi ou do que não chegou a ser. O fim de um relacionamento, ainda que possa ter sido uma escolha necessária, uma opção concordante do casal, pode carregar uma imensa carga emocional, em virtude do rompimento de todo um mundo conhecido, de uma identidade que também precisará passar por transformações diante da mudança de um estado civil. E essa dor pode se intensificar em datas marcadas socialmente como momentos de celebração do amor, como no caso do Dia dos Namorados.

Terminar um relacionamento é viver uma espécie de luto. Mesmo sem morte, há perdas importantes: de planos, de vínculos, da intimidade, da rotina compartilhada, de um futuro imaginado. O luto pelo término de um relacionamento não é apenas pela pessoa que se despediu, mas por projetos compartilhados, pela identidade que se construiu junto ao outro, pela rotina afetiva que dava sentido ao cotidiano. Quando esse vínculo se rompe, há uma espécie de quebra no enredo da vida, e o que antes parecia fazer sentido passa a exigir reconstrução. Como qualquer luto, o fim de um relacionamento exige tempo – um tempo individual, de dentro, e um tempo cronológico para resgate da sensação de controle e segurança, discernimento, ponderação – acolhimento e elaboração.

E o que dizer daqueles que não têm uma perda recente, mas convivem com a solidão afetiva como uma constante? Para quem está solteiro, o Dia dos Namorados também pode ser um lembrete indesejado daquilo que não se tem, daquilo que se perdeu ou daquilo que gostaria de ter tido. Certamente, estar solteiro, por opção ou circunstância, pode ser vivido de forma leve e livre por muitos, e não existe certo ou errado para tais circunstâncias, uma vez que cada qual encontra meios para se identificar melhor, estando, ou não, acompanhado de alguém. Porém, para outros, especialmente em datas como o Dia dos Namorados, pode emergir um sentimento de inadequação, exclusão e até mesmo fracasso pessoal. A cultura em que vivemos, ainda que com uma série de ampliações e transformações no quesito relacionamento, ainda romantiza o amor de forma idealizada, colocando o relacionamento amoroso como sinônimo de sucesso emocional e de completude. Isso gera sofrimento em quem não se sente “encaixado” nessa modalidade.

A psicologia nos convida a olhar para essas experiências com empatia e profundidade, compreendendo o impacto dessas vivências e convidando à escuta sem julgamento. O sofrimento emocional precisa de espaço para ser sentido e elaborado, não para ser comparado, negado ou evitado. Cada pessoa vive seus lutos e solidões de forma única, e o primeiro passo para o autocuidado é validar os próprios sentimentos, por mais contraditórios que pareçam.

Neste Dia dos Namorados, talvez o convite seja para lembrar que o amor tem muitas formas e que cuidar da própria saúde mental é também um ato de amor. Se você está vivendo o luto de uma relação, recém ou antiga, permita-se sentir. Se está solteiro e isso dói, não minimize sua dor. E se está bem, compartilhe afeto de forma gentil com quem talvez esteja em silêncio. O amor que mais cura é, antes de tudo, o amor que acolhe o outro e a si mesmo.

Franciele Sassi, psicóloga mestre em psicologia clínica
Franciele Sassi, psicóloga mestre em psicologia clínica

 

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