Carência digital: estamos buscando amor ou apenas alívio emocional imediato?
- temporacomunicacao
- 18 de nov.
- 3 min de leitura
Coluna de Maia Boaro

Num mundo onde a solidão cabe no bolso e vibra na palma da mão, os sites e aplicativos de relacionamento se tornaram vitrines afetivas sempre abertas. Um toque, um match e, de repente, alguém aparece dizendo exatamente o que você gostaria de ouvir. Parece mágica. Mas, silenciosamente, algo maior pode estar acontecendo: *não estamos mais buscando amor — estamos buscando anestesia emocional.*
E a diferença entre as duas coisas é imensa.
A cada novo match, o cérebro libera dopamina, o mesmo neurotransmissor envolvido em vícios como compras compulsivas e jogos online.
Não é exagero afirmar: *os aplicativos nos treinam para esperar pequenas recompensas emocionais*.
Não é amor, é estímulo.
Não é conexão, é um “alívio” por alguns segundos.
E o mais perigoso?
Quanto mais vazios por dentro, mais freneticamente deslizamos para o lado.
Conversas cheias de intensidade… e vazias de raiz
Vivemos uma explosão de relações que começam intensas, rápidas, quase cinematográficas — mas morrem com a mesma velocidade.
Frases como:
* “Você é diferente”
* “Nunca senti isso tão rápido”
* “A gente tem uma conexão especial”
…já viraram roteiro repetido.
É o afeto fast-food.
Enche no momento, mas não nutre.
A maior parte desses encontros não acaba por falta de química.
Acaba porque *muita gente não busca o outro — busca o que o outro desperta no ego*.
Carência não é crime. O problema é quando vira direção.
Estar carente é humano.
Todos passamos por fases de fragilidade emocional.
Mas quando a carência guia nossas escolhas, começamos a aceitar pouco, acreditar rápido e nos entregar para gente que não entrega nada.
É aí que surgem dilemas como:
* “Por que sempre caio em conversas vazias?”
* “Por que me apego rápido?”
* “Por que ele some do nada?”
A resposta pode estar menos no outro e mais na *nossa necessidade de preencher silêncios internos com barulho digital*.
A falsa sensação de escolher — e a solidão que cresce por trás
Os sites de relacionamento nos dão a impressão de que estamos livres, desejados e com inúmeras possibilidades.
Mas quanto mais deslizamos, mais percebe-se uma verdade incômoda:
Nunca tivemos tantas opções e tão pouca profundidade.
Nunca conversamos com tanta gente e nos sentimos tão sozinhos.
O excesso de opções tira a paciência, cria impaciência e transforma relações em um mercado de possibilidades infinitas — onde ninguém vale nosso tempo porque sempre pode existir alguém “melhor”.
A pergunta que realmente incomoda
No silêncio da noite, quando a tela apaga e o dedo descansa, fica apenas uma pergunta:
O que eu estou procurando de verdade?
Um amor?
Ou apenas alguém que me distraia do que eu não quero sentir?**Essa é a reflexão que separa quem se perde nos aplicativos de quem começa a usá-los com consciência.
O caminho de volta para a conexão real
Para sair do ciclo da carência digital, é preciso agir em duas direções:
Autenticidade emocional: Não correr para um match quando algo dentro dói.
Sentir primeiro, procurar depois.
Critério afetivo: Parar de aceitar migalhas só porque a notificação acendeu.
Critério não é frieza — é amor-próprio.
O amor não acabou — mas exige presença, não cliques
Sites de relacionamento podem unir pessoas incríveis.
Mas eles não substituem a construção emocional que acontece fora da tela.
No fim, o ponto não é demonizar os aplicativos.
É reconhecer quando eles se tornam muletas emocionais.
Porque o amor verdadeiro não vibra.
Ele chega devagar, cresce, se constrói.
E, ao contrário da carência digital, ele não some quando a bateria acaba.
No fim das contas, a grande verdade é simples e desconfortável: nenhum aplicativo vai preencher o que só a gente pode olhar de frente. A carência pede pressa; o amor pede presença. E enquanto continuarmos buscando alívio em telas que nos dão migalhas de atenção, vamos seguir repetindo a mesma história com rostos diferentes. Talvez seja hora de desligar o celular e encarar a pergunta que todo mundo evita: *o que dói mais — estar só ou continuar se perdendo em quem nunca fica?* Porque a resposta dessa pergunta não apenas muda nossos relacionamentos… ela muda a forma como a gente se ama.














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