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Carência digital: estamos buscando amor ou apenas alívio emocional imediato?

  • Foto do escritor: temporacomunicacao
    temporacomunicacao
  • 18 de nov.
  • 3 min de leitura

Coluna de Maia Boaro


Maia Boaro é psicopedagoga, psicoterapeuta e psicanalista, com especialização em Término, Dependência e Narcisismo. Especialista em Neuropsicologia e problemas de aprendizagem; Educação especial infantil e TEA; Terapia cognitiva comportamental; Especialização em terapia em aba; Terapia analítica do comportamento infantil; Especialização em alfabetização e letramento.
Maia Boaro é psicopedagoga, psicoterapeuta e psicanalista, com especialização em Término, Dependência e Narcisismo. Especialista em Neuropsicologia e problemas de aprendizagem; Educação especial infantil e TEA; Terapia cognitiva comportamental; Especialização em terapia em aba; Terapia analítica do comportamento infantil; Especialização em alfabetização e letramento.

Num mundo onde a solidão cabe no bolso e vibra na palma da mão, os sites e aplicativos de relacionamento se tornaram vitrines afetivas sempre abertas. Um toque, um match e, de repente, alguém aparece dizendo exatamente o que você gostaria de ouvir. Parece mágica. Mas, silenciosamente, algo maior pode estar acontecendo: *não estamos mais buscando amor — estamos buscando anestesia emocional.*


E a diferença entre as duas coisas é imensa.


A cada novo match, o cérebro libera dopamina, o mesmo neurotransmissor envolvido em vícios como compras compulsivas e jogos online.

Não é exagero afirmar: *os aplicativos nos treinam para esperar pequenas recompensas emocionais*.


Não é amor, é estímulo.

Não é conexão, é um “alívio” por alguns segundos.


E o mais perigoso?

Quanto mais vazios por dentro, mais freneticamente deslizamos para o lado.


Conversas cheias de intensidade… e vazias de raiz


Vivemos uma explosão de relações que começam intensas, rápidas, quase cinematográficas — mas morrem com a mesma velocidade.

Frases como:


* “Você é diferente”

* “Nunca senti isso tão rápido”

* “A gente tem uma conexão especial”


…já viraram roteiro repetido.


É o afeto fast-food.

Enche no momento, mas não nutre.


A maior parte desses encontros não acaba por falta de química.

Acaba porque *muita gente não busca o outro — busca o que o outro desperta no ego*.


Carência não é crime. O problema é quando vira direção.


Estar carente é humano.

Todos passamos por fases de fragilidade emocional.


Mas quando a carência guia nossas escolhas, começamos a aceitar pouco, acreditar rápido e nos entregar para gente que não entrega nada.


É aí que surgem dilemas como:


* “Por que sempre caio em conversas vazias?”

* “Por que me apego rápido?”

* “Por que ele some do nada?”


A resposta pode estar menos no outro e mais na *nossa necessidade de preencher silêncios internos com barulho digital*.



A falsa sensação de escolher — e a solidão que cresce por trás


Os sites de relacionamento nos dão a impressão de que estamos livres, desejados e com inúmeras possibilidades.

Mas quanto mais deslizamos, mais percebe-se uma verdade incômoda:


Nunca tivemos tantas opções e tão pouca profundidade.

Nunca conversamos com tanta gente e nos sentimos tão sozinhos.


O excesso de opções tira a paciência, cria impaciência e transforma relações em um mercado de possibilidades infinitas — onde ninguém vale nosso tempo porque sempre pode existir alguém “melhor”.


A pergunta que realmente incomoda


No silêncio da noite, quando a tela apaga e o dedo descansa, fica apenas uma pergunta:


O que eu estou procurando de verdade?

Um amor?

Ou apenas alguém que me distraia do que eu não quero sentir?**Essa é a reflexão que separa quem se perde nos aplicativos de quem começa a usá-los com consciência.


O caminho de volta para a conexão real


Para sair do ciclo da carência digital, é preciso agir em duas direções:


Autenticidade emocional: Não correr para um match quando algo dentro dói.

Sentir primeiro, procurar depois.


Critério afetivo: Parar de aceitar migalhas só porque a notificação acendeu.

Critério não é frieza — é amor-próprio.


O amor não acabou — mas exige presença, não cliques


Sites de relacionamento podem unir pessoas incríveis.

Mas eles não substituem a construção emocional que acontece fora da tela.


No fim, o ponto não é demonizar os aplicativos.

É reconhecer quando eles se tornam muletas emocionais.


Porque o amor verdadeiro não vibra.

Ele chega devagar, cresce, se constrói.

E, ao contrário da carência digital, ele não some quando a bateria acaba.

No fim das contas, a grande verdade é simples e desconfortável: nenhum aplicativo vai preencher o que só a gente pode olhar de frente. A carência pede pressa; o amor pede presença. E enquanto continuarmos buscando alívio em telas que nos dão migalhas de atenção, vamos seguir repetindo a mesma história com rostos diferentes. Talvez seja hora de desligar o celular e encarar a pergunta que todo mundo evita: *o que dói mais — estar só ou continuar se perdendo em quem nunca fica?* Porque a resposta dessa pergunta não apenas muda nossos relacionamentos… ela muda a forma como a gente se ama.

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