Entre inclusão e polêmica: a construção da retórica anti-“woke” no entretenimento
- temporacomunicacao
- 5 de jun.
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Coluna de Bruno Balotin
O termo “woke” surgiu originalmente na comunidade negra dos Estados Unidos como uma expressão de conscientização social, ligada à luta contra o racismo, a desigualdade e as injustiças sociais. Traduzido livremente, significa estar “acordado” ou “desperto” para questões sociais, políticas e culturais que envolvem preconceito, opressão e minorias. Com o tempo, esse conceito ultrapassou as barreiras do ativismo social e passou a ocupar espaço também na indústria do entretenimento, especialmente no cinema, nas séries e em outras produções culturais. A chamada “cultura woke” nos filmes e séries se refere à presença de pautas ligadas à diversidade, inclusão, representatividade de gênero, raça, etnia, orientação sexual e questões sociais contemporâneas.
No entanto, o termo, que inicialmente tinha uma conotação positiva, passou a ser usado de forma pejorativa por parte do público e críticos que acusam algumas produções de forçarem discursos, priorizando mensagens sociais em detrimento da qualidade narrativa, da construção dos personagens ou da coerência do enredo. A discussão se intensificou com o aumento de personagens que representam minorias, tramas que abordam racismo, machismo, homofobia, questões ambientais e sociais, e até mudanças em personagens clássicos para refletir um mundo mais diverso e inclusivo. Para alguns, trata-se de uma evolução necessária e uma reparação histórica na cultura pop. Para outros, é visto como uma imposição ideológica ou um artifício comercial.
Produções recentes da Disney, da Marvel, da Netflix e de grandes estúdios costumam ser alvo desses debates. Filmes e séries que incluem protagonistas femininas, personagens LGBTQIAPN+, ou trazem discussões de colonialismo, racismo e desigualdade acabam sendo taxados, por parte do público, de “excessivamente woke”. Por outro lado, defensores da representatividade afirmam que incluir essas temáticas não é apenas uma escolha criativa, mas um reflexo da própria sociedade, mais diversa, consciente e disposta a discutir suas próprias contradições. A inclusão e a representatividade nas produções culturais exercem papel fundamental na formação de identidades, no fortalecimento da autoestima de grupos historicamente marginalizados e na promoção de uma sociedade mais plural. A presença de diversidade no cinema, nas séries e em outras mídias contribui diretamente para a construção de narrativas que refletem a complexidade social, rompendo com estereótipos e padrões excludentes consolidados ao longo de décadas na indústria do entretenimento.
Estudos acadêmicos e pesquisas no campo da comunicação demonstram que a ausência de representatividade impacta negativamente na percepção social de grupos minorizados, enquanto sua presença qualificada tem efeito positivo no desenvolvimento psicológico, na sensação de pertencimento e na construção de modelos de referência, especialmente entre jovens e crianças. No âmbito sociocultural, a representatividade nas telas amplia o repertório simbólico coletivo, contribui para a normalização da diversidade e estimula a empatia. Para além de uma demanda social, trata-se de um recurso estratégico que promove a democratização do acesso a narrativas que contemplam diferentes etnias, gêneros, orientações sexuais, deficiências e realidades socioculturais.
Do ponto de vista econômico e mercadológico, a adoção de práticas inclusivas responde diretamente a um público cada vez mais diverso, consciente e exigente. Levantamentos recentes da indústria audiovisual indicam que produções com maior diversidade no elenco e nas equipes de criação tendem a apresentar melhor desempenho em audiência, engajamento e retorno financeiro. Na prática, a inclusão nas produções culturais opera como um instrumento de transformação social, reforçando valores de equidade, respeito e diversidade, ao mesmo tempo em que potencializa o alcance e a relevância da indústria do entretenimento em um cenário global cada vez mais atento às pautas sociais contemporâneas.















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