Na Serra, ExpoBento vira retrato do Brasil com festa, vinho e identidade

Por Diego Franzen | Pauta Serrana

Há um instante mágico, entre o chiado da cuia e o brinde de uma taça, em que Bento Gonçalves deixa de ser apenas uma cidade e se transforma em personagem. Em junho, ela se enfeita, abre os portões do Parque de Eventos e anuncia, com sotaque carregado de história: “A ExpoBento começou”.

E o Brasil responde. Vem de Kombi ou de HR-V, vem de coração aberto, de olhos curiosos, com vontade de ver, provar, viver. Vem pelo vinho, pelos shows, pela alegria que se espalha em cada corredor. Porque a ExpoBento não é só feira — é romaria laica de consumo, de cultura, de identidade. É abraço coletivo entre tradição e futuro.

Neste 2025, a cidade pisa firme no tablado da história. A 33ª ExpoBento e a 20ª Fenavinho não vêm só com números — vêm com alma. São mais de 500 expositores, expectativa de R$ 55 milhões em negócios, mais de 100 shows e uma promessa solene: ninguém sai igual de lá.

No princípio, era o amor

Não por acaso, a ExpoBento começa no Dia dos Namorados. No dia 12, enquanto os casais trocam promessas e os solteiros fazem piada com o destino, o ginásio se enche de riso. Cris Pereira, mestre de cerimônias do humor, dá o tom da festa: leve, irreverente, encantadora.

No dia seguinte, feriado de Santo Antônio, Bento se ajoelha ao riso do Guri de Uruguaiana, se levanta ao som de Glê Duran, Sbornia Kontr’Atracka, The Beatles no Acordeon, Rock de Galpão, Pagode do Feijão, Renato Borghetti, Os Serranos, e se surpreende com mágica de Kronnus. Tem cosplay, desfile pet, moda, gastronomia e o tal “Bodegão” com Chico Raíz — experiência que só se entende ao vivo, de preferência com um copo de vinho na mão.

No dia 18, o silêncio é respeitoso. Porque, sob o telhado do Pavilhão E, ele surge: Luan Santana, com sua turnê “Lua”, e transforma uma noite qualquer em espetáculo. A Serra canta junto, em uníssono emocionado, como se aqueles três minutos de refrão fossem eternos.

Mas Bento não vive só de palco

A ExpoBento nasceu em 1990, com a intenção simples e nobre de impulsionar a economia local. Cresceu como crescem as coisas bem cuidadas: com afeto, com trabalho, com identidade. Já recebeu mais de 4 milhões de visitantes ao longo das edições. E se reinventou, edição após edição, para se manter fiel ao seu propósito: celebrar a Serra Gaúcha com todas as letras — e taças.

A união com a Fenavinho, desde o início do século XXI, ampliou essa experiência. Hoje, são mais de 20 vinícolas reunidas, celebrando não só a bebida, mas a história. Em 2025, o brinde é ainda mais carregado de significado: são 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, e a programação homenageia essa epopeia com o tema: “Uma história que se vive”.

A feira que pulsa como cidade

Quem entra no parque sente que está dentro de uma cidade paralela, onde tudo respira Bento: o salão automotivo, o espaço de moda, os produtos coloniais, o imobiliário, a agricultura familiar, os brinquedos infláveis e aquele irresistível cheiro de pão recém-assado.

Tem espaço kids, tem exposições, tem negócios sendo fechados entre goles de café e promessas de futuro. Empresas encontram aqui um palco ideal para se mostrarem ao mundo. E o mundo, por sua vez, encontra aqui uma Bento Gonçalves em seu melhor figurino: moderna, acolhedora, vibrante.

Onde o povo é o espetáculo mais bonito

A maior beleza da ExpoBento não está na estrutura. Está nas crianças que correm de estande em estande com os olhos cheios de brilho, nos senhores que degustam vinho com solenidade de missa, nos casais que saem de mãos dadas com sacolas e planos. Está nos idosos dançando bandinha, nos jovens fazendo TikTok, nos pais tirando fotos dos filhos, nos filhos rindo dos pais.

Está em histórias como a de Fabiano Mazzotti e Itacyr Giacomello, que lançam o livro “Fenavinho, mais do que uma festa”. Porque é isso mesmo: a ExpoBento é mais que evento — é enredo coletivo de um povo que trabalha, sonha e brinda junto.

Muito além de uma feira

A ExpoBento é um fenômeno econômico e afetivo. Impulsiona o comércio, fortalece a indústria, aquece o turismo. Gera empregos, movimenta hotéis, espalha orgulho. E mais do que tudo, preserva. Preserva a cultura, a memória, a herança italiana que moldou o que hoje é a alma da Serra.

De 12 a 22 de junho, o Brasil tem um endereço obrigatório: Bento Gonçalves. Porque ali se encontra vinho, música e negócio. Mas se encontra, sobretudo, gente. E quando há gente reunida com alegria, o mundo fica mais leve — como uma taça erguida ao pôr do sol.

A ExpoBento convida. Com música, com aroma de pão, com sotaque italiano e olhos brilhando. Convida com alma.

E Bento abre as portas.