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O Impacto Emocional do Luto Diante de Perdas Ambíguas

  • Foto do escritor: temporacomunicacao
    temporacomunicacao
  • 17 de set.
  • 2 min de leitura

Coluna da Psicóloga Franciele Sassi


O luto é um processo natural diante da perda de alguém significativo, mas nem todas as perdas seguem o mesmo roteiro. O conceito de perda ambígua, cunhado por Pauline Boss (1999), refere-se a situações em que a ausência ou a morte de uma pessoa significativa não pode ser plenamente confirmada ou reconhecida – geralmente por não haver o corpo, dificultando a elaboração do luto. Essa categoria de perda se manifesta, por exemplo, em desastres naturais — como as enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul em 2024 — ou em acidentes aéreos e naufrágios, nos quais os corpos das vítimas não são encontrados.

Diferentemente do luto convencional, no qual a perda é reconhecida e socialmente validada, a perda ambígua implica em impactos sociais e relacionais, uma vez que o entorno não reconhece plenamente o sofrimento, já que “tecnicamente” a morte não foi confirmada. Essa falta de validação contribui para o chamado luto não reconhecido, dificultando o apoio social que é crucial nesses momentos. Ademais, a ausência de confirmação objetiva da morte pode dificultar a conclusão simbólica do vínculo, acarretando numa espécie de congelamento no processo de luto, afetando profundamente o bem-estar emocional e a saúde mental dos enlutados.

Do ponto de vista neurobiológico, perdas ambíguas ativam de forma prolongada o sistema límbico, especialmente estruturas como a amígdala e o córtex cingulado anterior, associadas ao processamento de emoções negativas, incerteza e angústia. Essa ativação está correlacionada com maior risco de desenvolvimento de transtornos como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), Transtorno Depressivo Maior e Transtornos de Ansiedade Generalizada. Adicionalmente, o caráter social da perda ambígua implica uma ausência de rituais de despedida e de reconhecimento público do luto, o que configura uma forma de luto nem sempre reconhecido. A falta de validação social intensifica o sofrimento subjetivo e pode isolar ainda mais o indivíduo enlutado, reduzindo suas redes de apoio.

As implicações clínicas dessas perdas demandam abordagens terapêuticas específicas e que prezem pela sensibilidade e adaptação. Intervenções como a Terapia de Luto Prolongado, a psicoeducação sobre a natureza da ambiguidade e a criação de rituais simbólicos de despedida têm se mostrado eficazes para promover a integração da perda, mesmo na ausência de confirmação física.

As perdas ambíguas exigem atenção interdisciplinar por parte de profissionais da saúde mental, assistência social e políticas públicas. A compreensão e o reconhecimento dessa forma de luto são fundamentais para o acolhimento adequado de populações afetadas por desastres e situações de desaparecimento.


Franciele Sassi, Mestre em Psicologia Clínica, Especialista em Lutos, Perdas e Suicídio, Especialista em Apego e Vínculos, Intervenções em Emergências Pós-Desastre, colunista do Pauta Serrana.
Franciele Sassi, Mestre em Psicologia Clínica, Especialista em Lutos, Perdas e Suicídio, Especialista em Apego e Vínculos, Intervenções em Emergências Pós-Desastre, colunista do Pauta Serrana.

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