O Preço do Silêncio: Por que estamos perdendo vínculos por medo de sentir
- temporacomunicacao
- há 4 dias
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Coluna da psicóloga Franciele Sassi
Vivemos em uma era de relações cada vez mais rápidas: conexões que se formam com um clique, estímulos constantes e vínculos que se desfazem com a mesma rapidez. Nesse contexto, cresce o fenômeno de pessoas que evitam expressar seus sentimentos quando gostam de alguém, não por falta de afeto, mas por medo que vai desde o medo de se expor, de não corresponder, de ser trocado, mesmo de ser rejeitado. E, certamente, essa evitação das expressões emocionais tem consequências reais e mensuráveis.
O que chamamos de estratégia de supressão expressiva, ou seja, esconder o que sente ou não demonstrar emoções, está associada a menores níveis de percepção de responsividade e menor sensação de proximidade nos relacionamentos. A supressão emocional deixa intacta a experiência subjetiva de emoções negativas e reduz a experiência de emoções positivas, estando associada a menor sensação de bem-estar e maiores custos sociais. No âmbito de regulação emocional, embora tanto a reavaliação cognitiva quanto a supressão possam reduzir respostas emocionais negativas, a supressão é menos eficaz e está associada a efeitos adversos na memória e na qualidade da regulação. Em resumo, não expressar o que sente traz prejuízos em várias áreas da vida, começando por dentro.
Dentro da minha área de estudo chamada Teoria do Apego, abordagem da qual faço uso no contexto da clínica, e que trata sobre como formamos e mantemos os vínculos ao longo da vida, e sobre como reagimos às perdas, aos rompimentos ou distanciamentos, não é a vulnerabilidade (expressão) que fragiliza o vínculo, mas, muitas vezes, a falta dela. Ou seja: quando evitamos dizer o que sentimos, empobrecemos o contato humano, a intimidade, a confiança. O apego, diferentemente do que se fala popularmente, é o que promove segurança e estabilidade para investir nas relações e na vida.
Quando silenciamos o que sentimos, vários efeitos podem ocorrer como, por exemplo, o isolamento emocional, em que evitamos vínculos na crença de que “é melhor não depender de ninguém” ou “não me arriscar”. Mas o ser humano é um ser de vínculo; nossa saúde mental e relacional está fortemente ligada ao estar conectado; relações superficiais ou insatisfatórias, sem expressão verdadeira onde a intimidade não se aprofunda; desgaste psicológico, ou seja, acumular emoções não expressas pode levar a ansiedade, depressão, menor bem-estar; estagnação do crescimento humano e relacional, uma vez que crescer emocionalmente está relacionado a aprender com o outro, desenvolver-se a partir do vínculo, o que exige abertura e expressão. Sem isso, ficamos presos em modos de funcionamento defensivos.
Portanto, não falar o que se sente por medo da reação do outro é abdicar de si mesmo. E abdicar de si mesmo por medo é abdicar de relações profundas, verdadeiras, transformadoras. A vulnerabilidade bem articulada fortalece vínculos, enquanto que a supressão enfraquece.
Expressar o que se sente não é fraqueza, mas um ato de autenticidade e integridade. A expressão pode e deve ser feita com responsabilidade, o que favorece que o outro entenda você, ao invés de deixar tudo subentendido ou internalizado. Se o outro não souber lidar com a sua expressão, isso diz mais sobre a história dele ou dela, sobre o estilo de regulação emocional, sobre os modelos de vínculo, do que sobre o seu valor. Assim sendo, o vínculo, mesmo quando desafiante, é fonte de aprendizado, expansão e enriquecimento.















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