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Setembro Amarelo e os desafios da conscientização em saúde mental

  • Foto do escritor: temporacomunicacao
    temporacomunicacao
  • 8 de set.
  • 2 min de leitura

Coluna da psicóloga Franciele Sassi


O mês de setembro costuma trazer consigo uma enxurrada de campanhas, postagens e ações vinculadas ao chamado Setembro Amarelo, movimento voltado à prevenção do suicídio. Embora a iniciativa tenha importância inegável por abrir espaço para o debate, há também um problema que precisa ser enfrentado: a superficialidade e, muitas vezes, a inadequação da forma como esse tema é comunicado à sociedade.


Durante este período, não é raro observar a circulação de conteúdos sensacionalistas, imagens de pessoas que morreram por suicídio ou mensagens de caráter romantizado que, em vez de prevenir, podem provocar efeito de contágio. Soma-se a isso a presença de profissionais não capacitados que divulgam orientações frágeis, superficiais ou até equivocadas — informações que, em grande parte, já podem ser encontradas em uma simples busca na internet. Muitas instituições, por sua vez, só assumem a pauta quando o problema já se materializa em adoecimentos graves, tentativas de suicídio ou mortes efetivas, reforçando um modelo reativo em vez de preventivo.


Apesar da amplitude de informações disponíveis atualmente, o sistema de saúde e a sociedade em geral ainda insistem em uma abordagem tratativa, e não preventiva. O suicídio, no entanto, não se limita a setembro. Pessoas sofrem diariamente em silêncio, carregando dores que não escolhem datas ou circunstâncias específicas. Atribuir causas únicas ao suicídio funciona como uma forma de isentar responsabilidades sociais mais amplas, mas essa é uma questão multifatorial, que revela falhas coletivas e denuncia um sintoma social.


Diante disso, é fundamental reconhecer que o tema precisa estar presente de maneira constante nos ambientes de convivência. A rede de saúde deve ser um espaço acessível e verdadeiramente acolhedor do sofrimento, enquanto as escolas têm um papel essencial não apenas na transmissão de conteúdos acadêmicos, mas também na educação para a vida, sustentando diálogos sobre temas difíceis e ensinando enfrentamento, tolerância e empatia. As empresas, por sua vez, necessitam assumir seu papel na promoção da saúde mental, garantindo um ambiente de trabalho seguro, criativo e humano.


Limitar a conscientização a fitas, balões ou lembranças amarelas é transformar um problema complexo em um ato simbólico e vazio. A banalização, nesse sentido, não promove cuidado, mas reforça a distância entre discurso e prática. A verdadeira promoção da saúde mental não se constrói em um único mês, nem em gestos decorativos, mas em práticas cotidianas de empatia, escuta e acolhimento.


Não se trata de ausência de informação, mas de ausência de humanidade. Estar disponível para ouvir, apoiar, incentivar a busca por ajuda e oferecer suporte, inclusive em questões práticas, pode ter mais impacto do que discursos prontos. A conscientização em saúde mental, portanto, não deve ser reduzida a um calendário: precisa ser vivida e exercida diariamente, a partir da sensibilidade e da corresponsabilidade coletiva.


Franciele Sassi, Mestre em Psicologia Clínica, Especialista em Lutos, Perdas e Suicídio, Especialista em Apego e Vínculos, Intervenções em Emergências Pós-Desastre, colunista do Pauta Serrana.
Franciele Sassi, Mestre em Psicologia Clínica, Especialista em Lutos, Perdas e Suicídio, Especialista em Apego e Vínculos, Intervenções em Emergências Pós-Desastre, colunista do Pauta Serrana.

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