A Sublime Arte de Nada Sentir e o Fardo Glorioso de Sentir Tudo
- temporacomunicacao
- há 3 dias
- 2 min de leitura
Coluna de Diego Franzen
Prezados mestres da superficialidade jubilosa e iniciados no rito da inconsciência permanente, permitam-me, mais uma vez, elevar um brinde não com vinho consagrado, mas com refrigerante morno, à verdadeira sabedoria deste tempo, a bênção da burrice.
Que prodígio metafísico é viver sem a dor acerba da lucidez, sem a inquietação dos justos, sem a necessidade inglória de compreender o universo ou os próprios sentimentos.
Que alívio é existir no templo da absoluta irrelevância emocional, onde o maior dilema existencial resume-se a decidir entre a cerveja de latão ou a piada pronta da noite, preservando intacta a ataraxia dos desprovidos de consciência.
Ser ignorante é alcançar o ápice da paz. Não lutar contra injustiças, não se abalar pelos preconceitos que dilaceram os outros, não carregar a espada da empatia nem o escudo da razão.
Apenas vagar, bestial e radiante como um sol de plástico, como um apátrida moral que desconhece fronteiras éticas.
Enquanto os verdadeiros cavaleiros buscam lapidar a si mesmos na disciplina da honra, o tolo acomoda-se sobre a própria mediocridade como se fosse poltrona.
Enquanto os buscadores da verdade afogam-se na alquímica tentativa de transmutar ignorância em lucidez, o imbecil já mergulhou na piscina rasa da autoindulgência.
O justo chora ao ver o mundo ruir. O néscio pergunta se o jogo da rodada já começou. Ao som de música ruim.
Entretanto, apesar dessa sedutora placidez da ignorância, ainda prefiro o fardo da consciência.
Prefiro a exsudação brutal das emoções verdadeiras.
Prefiro amar e sentir cada fragmento de saudade, cada angústia que vem com a claridade de quem enxerga demais. Prefiro lutar até a exaustão, até a morte se necessário for, pelos que me são caros. Prefiro ser honrado, mesmo que o mundo me chute como pedra solta.
Buscar entender meus sentimentos, ainda que eles não me obedeçam. Perscrutar os caminhos do universo, mesmo sabendo que o universo, por vezes, devolve silêncio com a inexorabilidade de quem nada deve explicar.
Dói.
A lucidez exige sangue.
A sensibilidade arde como metal incandescente no coração.
Mas é nesse fogo que se forja a espada do sentido. O conforto dos néscios é apaziguador como sono de pedra.
O sofrimento dos lúcidos é o preço da luz.
Reconheço que já poderia ter escolhido dormir, aceitar a leveza ordinária, incorporar a falsa ataraxia do ignorante. Ainda assim opto pela profundidade, ainda busco a pergunta impossível, ainda me recuso a abdicar da misericórdia estoica que me faz seguir mesmo ferido.
Que os imbecis riam.
Que dancem sua coreografia de passos previsíveis.
Que nada sintam além do próprio umbigo.
Nós, os inquietos, seguiremos marchando.
Sangrando, sim. Porém com a espada erguida em direção à palingenesia do espírito, que talvez um dia se revele como sentido.
E se no final eu tombar, que seja em pé. Pois é preferível sucumbir ardendo em verdade do que sobreviver intacto na covardia da indiferença. Que minha queda, se houver, ressoe como clarim na alma dos que amo, para que compreendam que escolher sentir é, ainda hoje, o ato mais heroico que um ser humano pode cometer.















Construir dias felizes e bonitos leva tempo e renuncia. Parabens