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Festas juninas seguem ao redor da fogueira, mesmo com junho indo embora

  • Foto do escritor: temporacomunicacao
    temporacomunicacao
  • 30 de jun.
  • 3 min de leitura

Diego Franzen | Pauta Serrana


Hoje é 30 de junho. Oficialmente, o mês das festas acabou. Mas alguém avise isso ao povo, porque as bandeirinhas ainda tremulam e o cheiro de pinhão torrado ainda sobe das brasas. O calendário pode virar. A festa, não. No Brasil, São João tem mania de se alongar. E julho não se importa de ser penetra.


No sul do país, onde os dias andam frios como devem ser os dias de inverno, a festa começa a ganhar um gosto ainda mais denso. No Rio Grande do Sul, por exemplo, é justamente no frio que as festas juninas ganham fôlego. Não se trata apenas de prolongar a alegria. É uma adaptação ao ritmo do Sul. Um pinhão quente na mão, uma taça de quentão na outra, e está feito o cenário. O frio torna-se aliado. Não obstáculo.


É nesse momento que surgem os cartazes com o termo “festa julina”. Bonitinho. Prático. Mas falso. Julina, na verdade, não existe. É como se tentássemos mudar o nome do Natal só porque a ceia foi empurrada para o dia 26. A festa é “junina” porque nasceu para celebrar os santos de junho. Santo Antônio no dia 13. São João no 24. São Pedro no 29. E nenhum deles aceitou mudar de mês.


O nome importa porque tem raiz. Tem memória. Não veio de uma jogada publicitária, mas de um calendário litúrgico antigo, onde cada dia tinha santo, cada santo tinha história, e cada história acabava na praça com fogueira acesa e milho assando. Chamar de julina é perder o elo com isso tudo.


Mas quem disse que o povo brasileiro se importa tanto assim com o calendário oficial? A gente pega a festa, bota debaixo do braço e leva até onde der. Julho, com seu frio bom de lareira e cobertor, oferece o cenário ideal para o que as cidades do Sul aprenderam a fazer muito bem. Preservar a tradição como quem protege um fogo antigo.


Essa festa, embora hoje toda enfeitada com bandeirinhas e coreografias ensaiadas, é uma velha senhora. Tem a idade dos campos e das plantações. Nasceu na Europa pagã. Na época em que acender uma fogueira era um jeito de dizer ao sol que ele era bem-vindo. Passou pelo crivo da Igreja. Ganhou o nome de São João. Desembarcou no Brasil junto com o sotaque lusitano e a saudade da terra natal. Aqui virou outra coisa. Virou milho. Virou sanfona. Virou riso caipira.


E no Sul, virou resistência. Uma maneira de manter acesa a chama da cultura popular num tempo em que tudo parece ser devorado pela pressa. Enquanto junho se despede, as comunidades do interior gaúcho, catarinense e paranaense estão só esquentando a lenha. Em julho, a festa ganha outra roupagem. Mais recolhida. Mais íntima talvez. Mas ainda profundamente viva.


A verdade é que São João, no Brasil, nunca teve muito apego ao calendário. Ele aparece quando quer e permanece enquanto houver gente disposta a se reunir em volta do fogo. Dançar quadrilha. Contar causos de antigamente. Junho pode acabar. Mas a festa, essa não. Ela continua no frio. No fumo da lenha. No coração das pequenas comunidades que ainda sabem que celebrar também é uma forma de resistir.


Porque, no fim das contas, o que se festeja não é só o santo. É a memória. É a gente reunida. É o inverno que se torna calor ao redor da fogueira.

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